O Último Suspiro da Materialidade (2018)

"As informações que hoje invadem nosso mundo e suplantam as coisas são de um tipo que nunca existiu antes: são informações imateriais. [...] Os indícios de materialidade ainda ligados a essas não-coisas podem ser descartados ao se apreciar o novo ambiente."

Vilém Flusser



A sociedade ocidental vivencia uma ruptura entre matéria e informação: um processo em que nos deslocamos de um estado no qual aspectos materiais são inseparáveis da informação contida nos artefatos, para um estado no qual a informação simplesmente não apresenta aspectos materiais apreciáveis.


Esse processo pode ser observado com mais ou menos intensidade em quase todos os objetos relevantes para a nossa cultura. Alguns deles vêm vivendo essa transformação de forma mais suave e progressiva, outros de forma mais violenta, mas é muito difícil encontrar hoje um exemplo de artefato que retenha, em sua materialidade, a totalidade de seu valor informático, ou seja que contenha mecanicamente suas informações. Assim, os artefatos que efetivamente se enquadram nessa condição arcaica acabam se destacando dos demais.


Esse projeto é um retrato de alguns desses artefatos: as chaves e fechaduras - fósseis vivos que 2600 anos após sua invenção, são provavelmente os últimos artefatos amplamente difundidos em nossa cultura a reter, na sua materialidade, valor prático, simbólico e estético. As chaves rondam semi-mortas e descontextualizadas em um cotidiano que se aproxima cada vez mais da absoluta virtualização, e a mera noção de que um objeto tão simples e tão puramente mecânico possa estar profundamente entranhado no nosso cotidiano certamente confundiria a mente de futuros arqueólogos que tentassem compreender nossa civilização.


O Último Suspiro da Materialidade nasce como uma tentativa de tornar nítido o contraste entre as chaves e os demais objetos aos quais atribuímos valor semelhante e, assim potencializar a reflexão a respeito dos artefatos que projetamos, produzimos, consumimos e dos quais nos cercamos.

Premio AF de Arte Contemporânea (02/08/2018)

Aliança Francesa de Porto Alegre

Paço Municipal, Porto Alegre

02/08/2018 a 28/09/2018

individual

Em 2018, uma instalação desenvolvida com imagens da série Naptu foi selecionada entre 10 finalistas do Segundo Prêmio AF de Arte Contemporânea. Como finalista, a obra foi exposta no evento que marcou a primeira exposição pública do artista.